Tendências

terça-feira, 14 de junho de 2016
Dentre os tantos questionamentos que o mundo da moda nos permite, um que recentemente eu tenho feito é sobre a relevância das tendências. Já deixamos registrado que a nossa visão - minha e da Bia - sobre a moda não deixa a gente enquadrá-la simplesmente na categoria dos nossos guilty pleasures. A moda é, sim, fonte de muita diversão e criatividade, mas o que estamos buscando em textos como esse é justamente olhar pr'além do cotidiano que acomoda esse tema. Daí que nessa linha de pensamento surgiu essa indagação.

A princípio, foi fácil pensar nessas novidades sazonais de forma negativa, afinal, existem pessoas que se sentem obrigadas a aderir a um visual porque ele está cotado como o cool, o descolado naquele momento. Parece exagero dizer isso, mas talvez essa pressão não esteja tão óbvia pra quem a sofre. Digo isso porque eu já me senti assim e, à época, não parecia dessa forma. Pra ficar mais legítima essa impressão, vou citar só um momento/sentimento que eu tive durante a adolescência: a obsessão por cabelos lisos que contaminou a grande maioria das meninas. Na verdade, contaminou a maioria das mulheres mesmo, por um bom tempo, e só começou a ser desconstruída há pouco. O bonito era só o cabelo liso, escorrido. O fio do meu cabelo propriamente é liso, mas a forma dele é ondulada/cacheada (depende do dia) e razoavelmente volumosa, ou seja, fora do padrão. Então eu alisava com chapinha, mesmo percebendo que o meu cabelo nunca foi muito receptivo à prática, e ficava super espigado, ressecado e, o mais importante, zero eu. Eu não me enxergava naquele visual mas todas as minhas amigas estavam adotando aquele look então eu sentia que devia fazer isso também. É ridículo falar isso hoje? Certamente. Mas, tentando entender a Nathália daquela época, eu acho que o que me motivava era a busca por um sentimento de pertencimento - não só ao meu grupo de amigas, mas à imagem de menina/mulher aprovada naquela época. Também cheguei a fazer escova inteligente duas vezes, mas enfim desisti desses recursos e abracei minhas curvas capilares!   

Depois desse mini relato talvez fique mais fácil concluir que, em algum nível, todo mundo já sofreu essa pressão pra estar dentro da moda do momento. Fico imaginando como essa ditadura da chapinha incidiu sobre meninas com o cabelo mais cacheado que o meu, sobre meninas com o cabelo crespo. Se nessa "escala de aceitação" eu não estava tão embaixo dadas as minhas características físicas, dá pra ver que a ditadura da beleza não se satisfaria nem com quem aparentemente inspira os próprios estereótipos que ela dissemina. Penso como deve ser uma força sobre-humana que as pessoas ainda menos """convencionais""" despendem pra se encaixar nesses modelos. 
...bora aplicar essa energia toda pra coisas cujo fim é a nossa felicidade?

Ufa, chega de tristeza! 

Partindo pra uma visão otimista da moda, a gente consegue encarar as tendências como um guia optativo, um rol exemplificativo da estação, talvez? Ou mesmo como manifestação da moda enquanto influenciada por outros ramos culturais, pela música, pelo momento político, que tal? Dá pra interpretar as tendências assim também! Atualmente eu tenho curtido elementos dos anos 70 e 90, algo vintage, mas também uma pegada lady like, e, em determinados dias, tudo isso associado ao básico. Sei lá, na minha cabeça eu consigo fazer essa mistura! E muitas dessas referências chegaram até mim devido à aparição desses conceitos na forma de tendências.

O interessante delas, ao meu ver, é a sugestão de peças ou mesmo conceitos, que podem ser ou inovadores ou releituras, mas que de um jeito ou de outro são novidade pra gente e dão novas possibilidades de expressão ao nosso estilo, ou até oportunidade de descoberta de um estilo novo. A gente está sempre se renovando, afinal, e é importante que a gente seja capaz de expressar isso. 
Caímos, então, naquele ponto de que a moda é o que fazemos dela. Aplicando isso mais especificamente às tendências, acho que vale tudo! Aderir totalmente, não aderir em nada, pegar o que te interessa à primeira vista e ignorar todo o resto, estar aberta às possibilidades e testar todas elas.. não importa! Tal qual o cabelo liso... tudo bem se você tem cabelo crespo/ondulado/cacheado mas acha que o alisar o torna muito mais a sua cara! A sacada é tentar perceber de onde vem a vontade de consumir aquilo e avaliar se você se reconhece naquela forma de expressão. O melhor sinal de que você está sendo fiel ao seu estilo é quando ninguém aprova aquele look mas você nunca se sentiu tão você.

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